terça-feira, 11 de novembro de 2008

Insignare et Educatione

É incrível que nos dias de hoje precisa-se ser desigual, para que sejamos iguais em sociedade.
Um grande exemplo deste fato está nas entrelinhas por onde permeiam as intenções de “cotas” em Universidades Públicas e na forma em que os governantes tentam compensar o longo e ainda contínuo processo de exclusão no qual foi fundamentada a sociedade brasileira a tudo isso se soma uma clara postura educacional falha e desacreditada por muitos envolvidos nesse processo. (...)

É bom saber...
A Educação evolui de acordo com cada povo e cultura, a exemplo do que ocorreu com os Hebreus e os Gregos. Estes últimos tornaram possível o conhecimento da técnica maiêutica de Sócrates em sua prática do autoconhecimento. Nesse contexto, pode-se citar a importância de Heródoto, intitulado “Pai da História”, que se propôs a relatar os fatos da história de forma objetiva. Mais tarde, na Idade Média, o ensino tem como força motriz a religião, pois a instituição Igreja assume o papel de educadora e repassadora de regras, com influência de Santo Agostinho e depois Santo Tomás de Aquino, sendo a Escolástica[1] o princípio educacional vigente nos séculos XII e XIII. Quanto a esse período, cabe uma melhor e mais longa análise, pois a educação na Idade Média apresenta duas características distintas: o trivium e o quadrivium.
A Educação na Idade Média tem como marco principal o “concilio de Latrão”, estabelecido em 1179. A partir dele, toda Igreja possui uma Escola e não por acaso também um cemitério próximo. Logo, cabia à Igreja, nos idos dos séculos XII, XIII e, por seguinte, cumprir o papel quase que absoluto de educadora e confortadora espiritual. Entretanto, como Educadores é importante ressaltar que, apesar da visão distorcida sobre o período medieval transmitida pelos renascentistas, havia, na Idade Média, um complexo sistema de ensino que, em diversas situações, dispensava o uso propriamente dito da escrita, fundamentando-se principalmente na oratória e nos acalorados discursos entre estudantes e mestres. Conforme Régine Pernoud (2008)[2]:

Estudantes e professores são habituados a grandes viagens: a cavalo e mesmo a pé, percorrem léguas e léguas, dormindo em granjas ou em hospedarias. Com os peregrinos e os comerciantes, são os que mais contribuem para a extraordinária animação que reina nas estradas da idade Média (...). O mundo letrado era então um mundo itinerante. Era a tal ponto que, para alguns, o movimento passa a ser uma necessidade, uma mania (...).
Entretanto, os estudantes daquele período não diferenciavam muito dos atuais, pois anulando as exceções, nesse caso os “cleri vagi” ou comumente chamados de goliardos, a maior parte deles preocupava-se com o aprendizado e se fixava em centros urbanos onde havia Universidades. O curioso, nesse período, é que tanto ricos quanto pobres estudavam no mesmo local sem que houvesse diferenciação no tratamento, fato revelado através do histórico de alguns grandes nomes do período medieval[3].

Os filhos de qualquer pequeno vassalo são educados na sede senhorial com os filhos do suserano; os dos ricos burgueses passam pelo mesmo aprendizado que os do último artesão, se pretendem assumir um dia a loja paterna. É por isso, sem dúvida, que se multiplicam os exemplos de grandes personagens saídos das famílias humildes: Super, que governou a França durante a cruzada de Luiz VII, é filho de servo; Maurice de Sully, bispo de Paris que fez construir Notre-Dame, era nascido de um mendigo; São Pedro de Damião, em sua infância, cuidava de porcos, e uma das mais brilhantes luzes da ciência medieval, Gerbert d’Aurillac, também era pastor; o Papa Urbano VI era filho de um pequeno sapateiro de Troyes, e Gregório VII, o grande Papa da Idade Média, filho de um pastor de cabras.

(...) Logo, o que nos chama a atenção é saber que, mesmo em períodos mais longínquos e distintos da formação educacional da sociedade ocidental o conceito de desigualdade, na educação, nunca foi tão desigual e oportunista como nos tempos atuais. Como Educador sugiro que venhamos repensar o modo de ensinar e transmitir o conhecimento penso que apesar de todas as dificuldades que venhamos ter em um ensino público em detrimento do ensino privado somente o “profissionalismo” e a “dedicação” que é nata do latim naturale do educador, fará com que o processo de ensino-aprendizagem seja puro e menos dependente de princípios politiqueiros que venham contribuir para uma péssima formação humanística corrente em muitas instituições de ensino.
Alex-Sandro P. Cardoso, é Historiador, Especialista em Gestão, Mestre em Educação e Autor de Livro e Artigos.

[1] Escolástica: A filosofia ensinada nas escolas e nos locais de instrução teológica da Igreja durante o período medieval. Aproximadamente do século XI ao XVI, a escolástica foi a perspectiva filosófica dominante na Europa. Combinava doutrina religiosa, o estudo dos Padres da Igreja e uma investigação filosófica e lógica baseada sobre tudo em Aristóteles (...) Platão, Tomás de Aquino e outros (...).
[2] PERNOUD. Régine. A educação medieval. Disponível em: <>. Acesso em: 01/05/2008
[3] A educação medieval. Disponível em: . Acesso em: 01/05/2008.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

ETNOCÍDIO

Todos possuem alma?

(...) Para os conquistadores europeus, os índios não eram verdadeiramente humanos, pois não conheciam a fé cristã. Não sendo cristãos, eram inferiores. Nenhum conquistado acreditava que cometia pecado ao escravizar ou matar gente como aquela. Foi preciso que um papa escrevesse um documento, proibindo a matança e a escravização. Veja um trecho da “Bula Veritas Ipsa”, escrita pelo papa Paulo III, em 1537:
...Nós que, ainda indignos representando Deus na terra... e procuramos achar suas ovelhas que andam perdidas fora de seu rebanho, para trazê-las a Ele, conhecendo que aqueles índios, como verdadeiros homens, não somente são capazes da fé em Cristo, mas que correm atrás dela (a fé) com grandíssima prontidão... determinamos e declaramos que os ditos índios e todas as mais gentes que daqui em diante os cristãos entrarem em contato, ainda que estejam fora da fé de cristo não deverão perder sua liberdade, seus bens e nem deverão ser reduzidos à servidão, declarando que os ditos índios e as demais gentes deverão ser atraídos e convidados á dita fé de Cristo com a pregação da palavra divina e com o exemplo de boa vida”(...).
(Texto adaptado. Bula Veritas Ipsa, in Francisco A. Varnhagem. História Geral do Brasil. 4ª Ed. São Paulo, ed. Melhoramentos, 1948. Tomo I, p. 64).


O Cruel depoimento de um Matador de Índios

(...) Com frieza singular, o bugreiro Ireno Pinheiro deu, em 1972, um relato de como se matava indígenas em SC:
“O assalto se dava ao amanhecer. Primeiro, disparavam-se uns tiros. Depois, passava-se o resto no fio do facão. O corpo é que nem bananeira, corta macio. Cortavam-se as orelhas. Cada par tinha preço. Às vezes, para mostrar, a gente trazia algumas mulheres e crianças. Tinha que matar todos. Se não, algum sobrevivente fazia vingança. Quando foram acabando, deixou de pagar a gente.
A tropa já tinha como manter as despesas. As companhias de colonização e os colonos pagavam menos. As tropas foram terminando. Ficaram só uns poucos homens, que iam em dois ou três pro mato, caçando e matando esses índios extraviados. Getúlio Vargas já era Governo, quando eu fiz uma batida. Usei Winchester. Os índios tavam acampados num grotão. Gastei 24 tiros. Meu companheiro, não sei. Eu atirava bem”(...). (Depoimento dado em 1972 ao antropólogo Sílvio Coelho dos Santos, pelo bugreiro Ireneu Pinheiro).
(Santos, Sílvio Coelho dos – Os Índios Xokleng – Memória Visual, Editora da UFSC e UNIVALI, Florianópolis, 1997).

Os textos acima estão contidos na obra A Formação Histórico-Geográfica de Santa Catarina de autoria de Alex-Sandro Pinheiro Cardoso e Vlamir Severo Schulz e buscam relatar através de arquivos documentais a triste história de nossos ilustres moradores desta terra, os índios, que em um passado não muito distante eram apenas silvícolas autóctones livres de corpo e espírito que tiveram sua liberdade ceifada pela dita idéia de civilização.

CARDOSO, Alex-Sandro P. SCHULZ, Vlamir S. A Formação Histórico-Geográfica de Santa Catarina. Ed. Copyart. Tubarão, 2003.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Em tempos de vestibular é bom saber!

“O primeiro bandeirante”

(...) A partir de Santa Catarina, o náufrago português Aleixo Garcia entrou no Paraguai, na Bolívia e no mitológo Império Inca antes de qualquer outro europeu. Não voltou vivo, mas sua aventura orientou a colonização da América do Sul:
“Já fazia uns sete, oito anos que o português Aleixo Garcia ouvia a mesma fascinante história. Desde que naufraga, em 1516, os dóceis índios carijós da ilha de Santa Catarina, com quem passara a morar, contavam-lhe que no interior do continente havia um poderoso rei branco, dono de riquezas incomensuráveis. Esse rei, garantiam, explorava uma montanha de pura prata chamada Potosí.
Aleixo não resistiu à tentação. Perto de 1524, acompanhado de alguns náufragos como ele e centenas de carijós, partiu. Viajou cerca de 2.600 quilômetros a pé e de canoa, abrindo para os europeus o Peabiru, a vasta rede de trilhas indígenas que ligava o litoral brasileiro ao Rio Paraguai. Desbravou florestas e pântanos e enfrentou índios hostis. Depois de um ano e meio chegou a Cochabamba, na Bolívia, a 150 quilômetros da mina de prata de Potosí, hoje esgotada. Descobriu o império do rei Inca Huayna Capac, menos branco do que se supunha, guerreou contra tribos sob o seu domínio e saqueou peças de ouro.
Embora tenha sido morro antes de retornar, seus mensageiros voltaram a Santa Catarina e confirmaram os relatos indígenas. Da Europa, foram mandadas expedições para refazer seu caminho. Assim, deu-se início à colonização dos rios da Prata, Paraná e Paraguai (...).

CARDOSO, Alex-Sandro P. SCHULZ, Vlamir S. A Formação Histórico-Geográfica de Santa Catarina. Ed. Copyart. Tubarão, 2003.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A Máfia Verde

O livro Máfia Verde, traz para discussão a real função das ONGs e sua participação política e social na sociedade humana. Trata-se de um bom documentário que nos evoca a uma nova perspectiva ambiental. Diferenciada daquilo que estamos acostumados a presenciar, pelos meios de comunicação e órgãos governamentais.

O trecho abaixo chama a atenção, por ser, uma interrogação crítica sobre o que é e o que provoca a poluição.
(...) Grande parte dos verdadeiros problemas ambientais decorre da falta de desenvolvimento. Três quartos do desmatamento mundial se destinam à obtenção de lenha, o recurso energético mais primitivo usado pelo homem. As queimadas constituem a forma mais rudimentar de preparação de terrenos para a agricultura. A falta de saneamento básico é uma das principais causas de poluição dos cursos d’água nos países subdesenvolvidos. A pior poluição é a da pobreza, diziam com propriedade os delegados brasileiros às primeiras reuniões internacionais sobre o meio ambiente, na década de 1970. Assim, para combatê-la eficazmente e promover um desenvolvimento verdadeiro e que dispense rótulos retóricos, é imprescindível rejeitar o obscurantismo ambientalista. (...)

CARRASCO, Lorenzo. A MÁFIA VERDE – O Ambientalismo a Serviço do Governo Mundial. Capax Dei Editora. Rj, 2003

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

SABER ENVELHECER

Por: Cícero

(...) Por certo, os que não obtêm dentro de si os recursos necessários para viver na felicidade acharão execráveis todas as idades da vida. Mas todo aquele que sabe tirar de si próprio o essencial não poderia julgar ruins as necessidades da natureza. E a velhice, seguramente faz parte delas! Todos os homens desejam alcançá-la, mas, ao ficarem velhos, se lamentam. Eis aí a inconseqüência da estupidez!
Queixam-se de que ela chegue mais furtivamente de que a esperavam. Quem então os forçou a se enganar assim? E por qual pródigo a velhice sucederia mais depressa à adolescência do que esta última sucede a infância? Enfim, por que diabos a velhice seria menos penosa para quem vive oitocentos anos do que para quem se contenta com oitenta? Uma vez transcorrido o tempo, por longo que seja nada mais consolará uma velhice idiota. (...)
(...) As melhores armas para a velhice são o conhecimento e a prática das virtudes. Cultivados em qualquer idade, eles dão frutos soberbos no término de uma existência bem vivida. Eles não somente jamais nos abandonaram mesmo no último momento de vida – o que já é muito importante -, como também a simples consciência de ter vivido sabiamente, associada à lembrança de seus próprios benefícios, é uma sensação das mais agradáveis. (...)

Marco Túlio Cícero (44 a.C), Político, Jurista, Filósofo e Orador cuja vida foi ceifada a mando de seu inimigo político o romano Marco Antônio. Cícero em sua Obra SABER ENVELECER nos traz ensinamentos sobre a arte de envelhecer, propondo encontrar o prazer de viver em todas as fazes de nossa vida.

Em tempos de amadurecimento e prolongamento da sociedade humana brasileira esta obra nos alerta dos perigos de nossa vaidade estética, comportamental e capital, pois a arte de viver (grifo meu) esta na própria aceitação de nossas transformações físicas e psicológicas, portanto tornar-se um ancião feliz exige redenção intelectual e comportamental.

“Somente os idiotas se lamentam de envelhecer.” (Cícero, 44 a.C.)

Cícero, Marco Túlio, 103-43 A.C. Saber Envelhecer e Amizade. Porto Alegre: L&PM, 2002.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

DIRETRIZES CURRICULARES PARA A CONSOLIDAÇÃO DA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

DIRETRIZES CURRICULARES PARA A CONSOLIDAÇÃO DA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

Prof. Dr. Valdir Luiz Schwengber
Prof. MSc. Alex-Sandro P. Cardoso



RESUMO



A Educação Patrimonial no contexto arqueológico não pode ser pensada apenas como um conjunto de atividades inerentes à pesquisa ou para o atendimento a uma exigência legal. Muito mais que isso, ela deve contribuir na rediscussão do modelo de sociedade que construímos, onde as discrepâncias sociais têm forte vínculo cultural. Apesar do relevante papel da arqueologia no reconhecimento do passado humano em território brasileiro e o trabalho educativo realizado pelos pesquisadores, pouco se avançou para uma inserção mais ampla deste passado pré-colonial na nossa história. Isto ocorre pela pouca abrangência das atividades de educação patrimonial: seja ela geográfica, temporal ou de profundidade na reflexão sobre o processo histórico. Basta abrir os livros didáticos, que são referências seguras diante de uma sociedade com acesso restrito a publicações científicas confiáveis; é verificável nos currículos das faculdades de pedagogia, entre outros. Resultados efetivos dependem de esforços efetivos integrados as políticas públicas. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira de 1996, os Parâmetros Curriculares Nacionais e os Temas Transversais abrem as portas para a inserção da temática e trabalhar na base do problema. É necessário, através do sistema formal de ensino introduzir a temática e universalizar a discussão sobre o patrimônio.


Palabras-Chave: Patrimônio Cultural; Diretrizes Curriculares; Arqueologia Pré-colonial; Sistema de Ensino.

1 Introdução

A educação patrimonial, pela exigência legal ou pela importância que lhe é atribuída como elemento inerente ao trabalho arqueológico, tem recebido destaque pela sua relevância nos últimos anos em seminários e congressos, nas discussões acadêmicas e na atuação dos profissionais com a comunidade. Neste sentido, sempre mais, é importante analisar suas formas e sua finalidade para que esteja adequada às necessidades.
A educação, enquanto instrumento de transformação, não pode ter seu significado vulgarizado e reduzido a um planejamento e execução de atividades desvinculadas de um projeto político-pedagógico mais amplo. Para tanto, é necessário que se compreendam as estruturas históricas sobre as quais as sociedades são constituídas para que dispositivos adequados possam ser acionados e seus resultados sejam atingidos.

2 Construção da Identidade Histórica na Região do MERCOSUL

A discussão central da tese doutoral, entitulada “La preservación del patrimonio histórico a través de la educación patrimonial en los países del MERCOSUR: una propuesta de arqueología y educación.”, defendida em maio de 2004 na Universidade de LEÓN/Espanha, surge da preocupação do docente/pesquisador de cursos de licenciatura sobre as temáticas referente à pré-história e a história pré-colonial brasileira, áreas de estudo da arqueologia. No Brasil raramente estabeleceu-se relação entre pesquisa e ensino frente à problemática da preservação, conservação e (re)construção do patrimônio arqueológico. A consolidação da democracia sobre uma base cultural pluralista motiva a comunidade educacional na construção de uma proposta curricular, contemplando os diferentes agentes históricos que contribuíram e contribuem na formação da identidade destas sociedades.
Desenvolveu-se, desde seus primórdios, no interior do sistema educacional brasileiro, de forma especial, catarinense, uma prática referente à história como se esta tivesse seu início em nosso país com a chegada da esquadra de Pedro Álvares Cabral, com um capítulo decisivo a partir da colonização européia da segunda metade do Século XIX, ignorando o grande contingente de sociedades que faziam desta terra cenário de sua história. Por outro lado, os conflitos derivados do processo de colonização do Século XVI até o Século XX, no intuito ora de escravizar os povos indígenas, ora de avançar sobre seus territórios, são representados, muitas vezes, pela história oficial, como a necessidade da sociedade moderna em implantar um modelo civilizador, essencial para o futuro de nossa pátria: tratava-se do agente representado pela cultura superior contra o modelo pré-histórico, herdeiro da barbárie.
Neste sentido, herdamos uma construção histórica deturpada a respeito das sociedades ameríndias, cuja memória necessita ser resgatada, difundida, contribuindo para a rediscussão de conceitos estanques, nocivos à aceitação de uma abordagem intercultural, tão necessária para construção da cidadania e da identidade nacional, em uma sociedade de diversidades culturais, tais como encontradas em nosso país. Portanto, é necessária a reconstrução do status quo dos grupos subjugados para que a sociedade reconheça os diferentes agentes culturais a partir da escola, espaço privilegiado para a construção das estruturas de confrontação social.
A arqueologia, através do estudo da cultura material, é importante instrumento para investigar a história das sociedades pré-coloniais, para reconstruir, juntamente com a antropologia, a história e outras áreas do conhecimento, a trajetória das sociedades que ainda subsistem em nosso território e identificar os traços das sociedades que aqui, por centenas ou milhares de anos, viveram e desapareceram, deixando vestígios de sua ocupação.
A discussão em torno da preservação do patrimônio arqueológico toma contornos comuns nos países do Cone Sul, conseqüência de aspectos comuns vividos por essas sociedades. A grande expansão ultramarina ibérica dos séculos XV e XVI estabeleceu relações entre sociedades européias, americanas, asiáticas e africanas que marcaram fortemente a cultura dos povos iberoamericanos, e suas conseqüências sugerem a retomada de alguns aspectos importantes para a construção nacional frente sua heterogeneidade. A constituição destas sociedades, sobre a “Cruz e a Espada”, outorgaram o primado da cultura européia sobre as culturas nativas, relegando ao segundo plano a cultura das sociedades ameríndias, colocadas em condição de inferioridade frente à civilização branca.
É diferenciada a expressão que as sociedades indígenas têm nos diferentes países da América do Sul. Nos países andinos e no Paraguai,[1] a participação das sociedades nativas é mais perceptível do que em países como Brasil, Argentina e Uruguai, onde assumiram status de minoria étnica. Mesmo nos países em que seus descendentes sejam maioria e representem percentuais expressivos, vivem subjugados por uma elite de descendência européia que concentram o poder e a riqueza. Estas características levam a minimizar a importância das sociedades nativas e enaltecem a preponderância européia, sem negar a participação do elemento nativo.
No Brasil, o índio configura como um dos seus elementos constitutivos juntamente ao negro e ao branco. Aborda-se sobre os resultados decorrentes da miscigenação entre estas diferentes culturas e a importância de cada uma para o desenvolvimento da cultura nacional. O papel atribuído aos indígenas restringe-se ao hábito do banho e a boa convivência com a sociedade branca, oscilando entre o idílico “bom índio”, rompendo sutilmente com o “não civilizado” e “antropofágico”. Sua contribuição reconhecida contrasta com o distanciamento, sendo seu estágio “civilizacional” uma realidade distante à sociedade brasileira em geral. Raramente estes grupos sociais são caracterizados através do reconhecimento de suas diferenças e peculiaridades como idioma, organização, tradições, condições de moradia, entre outras. Em pesquisa realizada a partir de livros didáticos, raramente estes aspectos são mencionados. Cria-se uma idéia de homogeneidade, atribuindo simplesmente a denominação de indígena como um conjunto de características, a partir do qual apresenta determinado estereótipo, como não se estivesse tratando de sociedades diferenciadas, agrupadas em torno de duzentas (200) nações[2]. Esta situação que pode ser entendida com fruto da restrita difusão das pesquisas realizadas no país sobre o tema, acaba denunciando o pouco caso delegado à pluralidade cultural e, especialmente, desprezo às culturas que viviam aqui antes da chegada dos portugueses.
Na Argentina, a situação destas sociedades é similar, mesmo tendo uma presença significativa, especialmente, no norte do país. A tentativa em torno da valorização de sua contribuição para a história do país consiste na difusão do passado missioneiro, com presença marcante na região, onde se localiza a Província de Missiones. A sua história, a partir da colonização espanhola e a forte presença inglesa no comércio do Prata e, posteriormente, a massiva colonização européia, de forma especial, italiana, fez com que os argentinos se considerassem um Estado mais europeu do que os demais. Neste sentido, houve, historicamente, uma sobrevalorização da matriz européia em sua identidade.
No Uruguai, a experiência do contato dos nativos com os europeus foi traumática. Primeiramente, os métodos utilizados pelos europeus frente aos ameríndios eram similares, porém, desdobramentos a partir de constantes conflitos acirraram suas posições. A campanha militar implementada pelas forças apoiadas pelo governo, denominada de Guerra dos Charruas, trouxe conseqüências desastrosas para as sociedades indígenas do Uruguai.
Esta dívida histórica com as sociedades indígenas é, para a América Ibérica, muito mais do que a devolução da dignidade, caso isto seja possível. Representa o reconhecimento de humanidade à grande “massa” de marginalizados que, até hoje, são penalizados pela sua origem.

3 História, Sistema Educacional e Educação Patrimonial

Pensando a Educação Patrimonial como um instrumento político, devemos constatar que, no decorrer da História, a Escola tem sido o principal mecanismo de manutenção do Status quo que sustentou o discurso eurocêntrico. Diante das condições políticas e legais, o atual contexto[3] propicia uma rediscussão do papel das culturas e de suas interelações, no sentido de resgatar a importância em se discutir bases identitárias a partir de uma “pluralidade cultural”, historicamente construída a partir da visão européia.
Segundo LE GOFF (1996:204), "(...) a ausência de um passado conhecido e reconhecido à míngua de um passado, pode também ser fonte de grandes problemas de mentalidade ou identidade coletiva". A história construída ao longo do tempo é a identidade de um povo que servirá de subsídio para novas gerações, possibilitando a inserção deste grupo nos espaços culturais, sociais e tecnológicos da sociedade moderna. Portanto, o reconhecimento, mesmo depois de alguns séculos, ainda representa uma possibilidade para os descendentes destas sociedades pré-coloniais fortalecer sua identidade machucada no decorrer dos séculos.
A história oficial tratou de alijar várias etnias da história do Brasil, especialmente aquelas que foram extintas pela aculturação ou genocídio, ora ignorando sua importância, ora denegrindo sua imagem através de um juízo de valor comprometido com os valores da sociedade branca. Pesquisas arqueológicas, a partir dos remanescentes da cultura material, proporcionaram, nas últimas décadas, significativos avanços no (re)conhecimento da história colonial e pré-colonial com resultados ainda muito restritos à comunidade acadêmica.

“Por um lado, reconhece-se a importância da identidade nacional para a compreensão das razões que justificaram a preservação do patrimônio e, por outro lado, sabe-se que as sociedades preservam os elementos que são identificados e por elas valorizados. Este círculo de atitudes individuais e coletivas, no Brasil, apresenta problemas no que tange à construção da imagem sobre a contribuição da arqueologia para a compreensão da Sociedade Brasileira” (TENÓRIO; FRANCO, 1994:9).

Por isto, apesar das pesquisas arqueológicas e antropológicas terem mostrado a longa história brasileira, oficialmente, esta restringe-se quase que, exclusivamente, à história a partir de 1500. Este fato tem importância considerável se levados em questão os fatores que interferem nesta postura da maioria dos historiadores, da mídia e de outros formadores de opinião. Percebe-se, claramente, um interesse por parte da sociedade sobre as pesquisas arqueológicas em andamento. Os meios de comunicação social são ávidos por noticiar qualquer informação que se refira sobre os “mistérios do passado”, fazendo com que grande parte dos veículos de informação reproduzam na íntegra todas as especulações que algum pesquisador apresenta referente ao tema. A falta de critérios e a carência de profissionais aptos para fazer jornalismo científico junto aos quadros profissionais dos jornais, revistas, emissoras de televisão, rádio e outros, por vezes, mais desinforma do que esclarece a população sobre o tema. É importante lembrar que, depois do alvoroço despertado em decorrência da identificação do sítio arqueológico, ninguém mais trata do tema e a informação permanece desconexa na mente das pessoas leigas. No entanto, discussões sobre o tema no sistema formal de ensino, permitiria à educadores e sociedade em geral uma reflexão mínima sobre as informações publicadas a este respeito.
A instituição Escola pode e deve contribuir na valorização do patrimônio, conduzindo o aluno à compreensão e resgate de certos valores, para que possa praticar o que lhe foi ensinado, além de estimular a formação de sua visão crítica. As sociedades indígenas foram estruturando-se ao longo do tempo e resultam de processos históricos que envolveram diferentes grupos sociais, possibilitando ao aluno a percepção de que a realidade vivenciada é mutável e conseqüência das ações de pessoas como ele, que viveram em tempos e espaços diferentes.
Possibilitar o entendimento e a valorização do patrimônio faz parte do processo permanente da educação. Como esta ocorre no decorrer da vida do indivíduo, deve conter todos os quesitos necessários à sua formação como cidadão consciente dos seus deveres e livre para refletir e compreender os seus direitos.
Dentro da perspectiva da teoria sócio-histórica de Vygotsky (RATNER, 1995), em que os Processos Psicológicos Superiores (PPS) têm sua origem na história e sociedade, há a percepção de que trabalhar com signos e ferramentas, como instrumentos de mediação, possibilita o desenvolvimento desses PPS. Percebemos, então, que a inserção do patrimônio neste processo de apreensão do conhecimento é uma ferramenta importante de uma época que remete a uma realidade sócio-cultural muitas vezes esquecida.
A valorização do patrimônio, portanto, perpassa a educação que viabilizará a preservação a partir de métodos interativos do indivíduo com a sua realidade histórica. O resgate e a valorização do patrimônio local, através da motivação dos habitantes de cada região, integraliza o patrimônio arqueológico e cultural à memória histórica regional, criando uma perspectiva mais concreta e realista da História local. Em meio a crescente concentração de riquezas e controle dos meios de comunicação social, proporcionados pela chamada globalização, a qual, tanto assusta a alguns e regozija a outros, vemos socializados diversos elementos culturais indesejados.

“(...) o racismo, a xenofobia, o fundamentalismo religioso (...), o desprezo pelos valores próprios como tradicionais ou antiquados, a confusão moral gerada por imagens comerciais avassaladoras que anunciam a felicidade e o sucesso por meio da posse de bens materiais inacessíveis à grande maioria dos habitantes (...)” (ORTEGA; LOPEZ In: SANTOS, 1997).

A mercantilização dos sonhos e das referências culturais representa um risco ao conjunto de elementos que sustenta a identidade cultural de determinado grupo. O fato de não possuir dinheiro suficiente para comprar os produtos responsáveis pela “felicidade”, “liberdade” entre outros apelos comerciais, instabiliza suas relações sociais.
Portanto, por mais que tenha sido pesquisado sobre as sociedades pré-coloniais de nossa região, conseqüentemente, elucidado referente seu avanço técnico, importância e contribuição na formação da identidade cultural regional, estas sociedades são relegadas a um papel secundário e inexpressivo na história destes países. O preconceito dispensado, carregando o estigma do “atraso” e da “barbárie”, marginalizam os grupos que ainda vivem na região em condição próxima à indigência. Isto sugere uma outra reflexão necessária: como ocorrera a difusão do conhecimento construído a partir das pesquisas arqueológicas realizadas? A constatação de que os métodos de socialização do conhecimento que, nos últimos anos vêm sendo aprimorados, ainda são restritos para obtenção de resultados mais efetivos.
A educação ocorre nos diferentes ambientes da vida social, porém é assumida pela Escola como espaço privilegiado na atividade desempenhada pelos adultos para assegurar a vida e o desenvolvimento da geração mais nova, das crianças, dos adolescentes e jovens, e para despertar e fazer crescer as suas habilidades e poderes físicos e espirituais. Isto permite que a educação escolar sistemática tenha resultados mais consistentes e duradouros do que atividades educativas esporádicas. Mesmo não sendo a Escola o único espaço educacional, o seu caráter formativo nas concepções e nos valores de uma sociedade tem papel efetivo na consolidação dos valores culturais que representam nossos interesses. Faz-se necessário partir para um caminho político. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira de 1996, os Parâmetros Curriculares Nacionais e os Temas Transversais abrem as portas para que os currículos possam ser rediscutidos nas propostas Curriculares dos Estados e Municípios, bem como ser introduzidos nos mais variados contextos através da Educação Ambiental e Pluralidade Cultural.

4 Conclusão

Tem-se percebido, especialmente, em cursos de graduação e pós-graduação de educadores, é que as ditas atividades de educação patrimonial estão mais para desdizer o que se julga adequado no processo pedagógico. O alcance é muito limitado quando programas de educação patrimonial, restritos a curtos períodos em locais específicos, pretendem dar conta de uma tarefa que necessita romper com concepções estruturais.
Em nenhum momento está se discutindo a validade e importância dos meios tradicionais de fazer educação patrimonial. Estes, inclusive, devem ser intensificados para “apagar o fogo” frente aos constantes ataques ao patrimônio histórico como um todo, especialmente ao arqueológico pré-colonial. O problema é que só isto não basta. Não é possível trabalhar consciência em programas de educação patrimonial que defendem uma prática, orientando em um sentido, ao momento que a Escola, de forma institucional, induz um entendimento contrário.
Mesmo em municípios que empreendem esforços há anos, discutindo a problemática da destruição e das oportunidades em torno deste patrimônio, percebe-se que a grande maioria dos professores apenas inserem algumas falas sobre este patrimônio, vinculada a uma prática incoerente e, muitas vezes, oposta, embasada na visão eurocêntrica preconceituosa dos livros didáticos. Trata-se da necessidade de uma articulação política mais intensa para tratar da questão do patrimônio de maneira sustentável, efetiva e contínua.


REFERÊNCIAS

FARIAS, Deisi Scunderlick Eloy de. Arqueologia e Educação: uma proposta de preservação para os sambaquis do Sul de Santa Catarina (Jaguaruna, Laguna e Tubarão). Porto Alegre, PUC-RS. Dissertação de Mestrado, 2000
LE GOFF, Jacques. História e Memória. 4. ed. Campinas. Editora da Unicamp. 1996.
RATNER, Carl. A Psicologia Sócio-Histórica de Vygotsky: aplicações contemporâneas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
TENÓRIO, Cristina Maria; FRANCO, Cristina Teresa. Seminário para Implantação da Temática Pré-História Brasileira no Ensino de 1º, 2º e 3º graus. Rio De Janeiro: UFRJ/MN, 1994.
SANTOS, Milton. Fim de século e globalização: o novo mapa do mundo:. 3. ed. São Paulo. Hucitec-ANPUR, 1997.
SCHWENGBER, Valdir Luiz. Software sobre os Sambaquis do Sul de Santa Catarina: a hipermídia na educação patrimonial. In. III Encontro SAB/Sul, Porto Alegre, 2002.
SCHWENGBER, Valdir Luiz. La preservación del patrimonio histórico a través de la educación patrimonial en los países del MERCOSUR: una propuesta de arqueología y educación. Tese de doutorado. Leon: UNILEON, 2004.

[1] O Paraguai é o único país da América do Sul que tem como um dos idiomas oficiais uma língua nativa, o Guarani.

[2] Conforme a FUNAI, vivem no Brasil 215 sociedades indígenas, mais de 55 grupos de indígenas isolados, 180 idiomas e 30 famílias lingüísticas diferentes.

[3] Claro que a motivação do multiculturalismo não é exatamente essa. Refere-se muito mais para a adequação à uma conjuntura “globalizante” que busca administrar interesses “nacionalistas” emergentes.

REFLEXÕES PARA O LÍDER EDUCADOR

REFLEXÕES PARA O LÍDER EDUCADOR

Produzido por:
Alex-Sandro Pinheiro Cardoso
Dulcemari Ruviario
Marisete dal Bello



RESUMO

Este artigo tem por objetivo questionar as práticas educativas vivenciadas pelos educadores do século XXI e sinalizar algumas preposições de mudanças na caracterização do educador como um novo líder. Líder este que possa trazer uma esperança de cultura integral para uma sociedade humanizadora dentro de um ensino reflexivo.

Palavras Chaves: educador – líder – educação – sociedade.

INTRODUÇÃO

O presente artigo busca abordar elementos reflexivos na concepção de um(a) educador(a) líder, questionando as novas posturas de liderança que atendem as exigências de um mundo em transformação.
Buscar-se-á realizar um ensaio reflexivo na postura de um líder educador-pesquisador, determinante e que acredite em algumas habilidades ao ensino reflexivo de um mundo contemporâneo.
Para concretizar o ensino reflexivo, segundo NÓVOA (1992, p.15-33), são necessárias algumas habilidades dentre elas destaca-se:
1º. “Habilidades empíricas: referem-se basicamente as capacidades necessárias aos procedimentos de sondagem e diagnóstico da escola e dos alunos (compilar dados, descrever situações, causas e efeitos, sentimentos e afetos), utilizando dados objetivos e subjetivos”.
2º. “Habilidades analíticas: referem-se aos procedimentos de análise de dados e conseqüente construção da teoria”.
3º. “Habilidades avaliativas: referem-se a emissão de julgamento de valor sobre os resultados obtidos por meio de projetos e suas conseqüências educativas”.
4º. “Habilidades estratégicas: referem-se ao planejamento e adequação das ações de acordo com a analise levada a efeito”.
5º. “Habilidades práticas: referem-se ao relacionamento entre a analise e a ação prática, adequação dos meios aos fins visando obter um resultado satisfatório”.
6º. “Habilidades de comunicação: referem-se ao processo de trabalho e reflexão realizados em grupo, favorecendo a comunicação e a socialização das idéias”.
Logo, ser um (a) líder educador (a) na realidade atual precisa “reunir” alguns elementos teórico-práticos para responder as transformações sócio-culturais sendo protagonistas de novos seres humanos.
Advém lembrar que este artigo, tem um caráter descritivo, interpretativo e bibliográfico. Busca ser um espaço de reflexão para todos os educadores no que tange o elemento da liderança.

EDUCADOR: LIDER OU COMANDANTE?

Viver nos dias atuais é tentar entender as relações que são marcadas por constantes sociais, econômicas, políticas, culturais, religiosas e tecnológicas que acenam para um novo ser humano.
Acredita-se que este novo ser humano irá exigir líderes mais preparados para exercer a missão de capacitar os novos protagonistas do novo milênio.
Discutir a liderança do educador requer reavaliar alguns pontos da estrutura organizacional da educação, pois tomamos como exemplo uma lei em especifico; aquela que diz que um aluno para passar de ano tem que no mínimo ter 75% de freqüência nas salas de aulas.
Segundo ALVEZ (2003, p. 192):
(...) Não importava que o aluno tivesse estudado por conta própria e que soubesse tudo. Qual a razão para tal lei? Respondem os burocratas: “Para garantir a qualidade de aprendizagem” (...) é óbvio que tal justificativa é falsa. A presença do aluno nas salas de aula não é garantia de aprendizagem. Especialmente se o professor for ruim (...)

Sendo assim, o educador deve refletir sobre seus feitos e suas atitudes em sua profissão, pois para ALVES a explicação é lógica:

(...) essa lei foi estabelecida para proteger os professores ruins. Com a lei eles sabem que, mesmo sendo ruins as suas aulas, terão um público cativo. Essa lei os salva da vergonha. Se não houvesse a dita lei, suas aulas ficariam as moscas (...)
ALVES (2003, p. 129)

Entretanto quando o educador busca a construção de uma liderança sadia, sem que esta esteja vinculada a leis que lhe garantam a autoridade máxima e que pode ser facilmente confundida com sistema ditatorial, podemos observar neste educador um comportamento claro de superação, pois para FERNANDES (2001, p.13)

“surge uma nova forma de liderar para atender às condições do novo milênio que exige líderes de sucesso, capazes de promover a evolução do Gênero Humano e o desenvolvimento, apesar das adversidades, dos perigos e das ameaças que se sucedem, em meio às mudanças velozes e surpreendentes entre catástrofes ecológicas e as dificuldades econômicas e sociais.”

Para tanto, é importante estar vigilante a todos os sinais de mudanças na vida dos povos, para com isto repensar, reeducar as nossas práticas educativas. Pois, para CURY (1998: p. 19):

(...) quem aprendeu a vivenciar a arte da dúvida e da crítica na sua trajetória existencial se posiciona como aprendiz diante da vida e, por isso, tem condições intelectuais de repensar seus paradigmas socioculturais e expandir continuamente suas idéias e maturidade psicossocial (...)

Todavia, estes novos paradigmas vão permeando um campo enorme de exigências no que tangem as áreas culturais da formação da consciência do ser humano.
Para FERNANDES (2001: p. 15), o líder educador precisa hoje:

(...) saber ser sensível e capaz de mudanças rápidas para estimular e orientar os liderados nas transformações sucessivas. Saber ver de forma global... e saber procurar em todo momento e situação, a dimensão espiritual dos seres, da vida, da natureza e dos fatores para que possa construir uma visão capaz de respaldar as ações que tenham um significado e sejam éticas (...)

É importante nos perguntar-mos se como líderes educadores estamos preparados para esta realidade? Como está a nossa formação continuada? Somos produtores de novos saberes? O que nos causa medo, angústia, nestas realidade – é o medo de perder o poder ou a dificuldade de nos reeducar-mos para um trabalho em equipe?
Para ACÚRCIO (2004: p. 77), cada vez mais são exigidos dos profissionais da educação, o uso e a aplicação de conhecimentos e de habilidades, como a capacidade de ação e de interação entre pessoas e equipes, de comunicação, de resolução de problemas.
Cabe, portanto, a necessidade de desenvolvermos a paixão pela pesquisa, pelo diferente, pelo inédito, dentro de um mundo tão repetido (igual).

O LÍDER É ATIVO?

Vejamos, manter-se em constante atividade é uma característica da educação, buscar refletir sobre o que lê e o que vê é ou deve ser prática de todo educando, pois conforme NACHMANOVITCH (1993: p. 101) nos acena para a arte que reside em não dar ao leitor(a) informações de mais ou de menos, mas a quantidade suficiente para catalizar a imaginação ativa. A melhor arte não é a que se apresenta numa bandeja de prata, mas a que desperta a capacidade do leitor para a ação.
Pergunta-se à você que está lendo neste momento este artigo, em que bandeja você está servindo os seus conhecimentos, experiências de vida aos seus alunos? Que aspectos contempla o “alimento” que está sendo degustado por esta comunidade? Está levando a uma nova vida ou para somente atender a interesses partidários, interesses pessoais? És portador de um novo amanhã? Em que mesas partilha os seus saberes?
Segundo WERNECK (2000: p. 39), no futuro sobreviverão os criativos; os repetitivos e copiadores serão engolidos pelas inéditas substituições de novas profissões, términos de emprego e adaptação ao imprevisível.
Oxalá que nossas práticas educativas não se tornem um espaço de morte ou “formação robótica”, mas um canteiro de desabrochar de talentos, potencialidades, novas lideranças. A humanidade necessita de Homens e Mulheres comprometidos com as questões ecológicas, humanas (sociais) de seus povos.
Para FREIRE (1998: p. 110), a educação é uma forma de intervenção no mundo. Intervenção que além do conhecimento dos conteúdos bem ou mal ensinados e/ou aprendidos implica tanto o esforço da reprodução da ideologia dominante quanto o seu desmascaramento.
Acredita-se que com isto estaremos sinalizando os nossos papeis de líderes na formação integral de um, povo mais solidário, humano, esperançoso e ousado para novas práticas de economia solidária, educação libertadora e uma sociedade aprendente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACÚRCIO, Maria Rodrigues Borges. A gestão da Escola. Editora Artmed, Belo Horizonte, 2004.

CURY, Augusto Jorge. Inteligência Multifocal: análise da Construção dos Pensamentos e da formação de pensadores. Editora Pensamento – Cultrix, São Paulo, 1998.

FERNANDES, Maria Nilza de Oliveira. Líder-Educador: Novas formas de Gerenciamento. Editora Vozes, Petrópolis, 2001.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 7ª edição. Paz e Terra. São Paulo, 1998.

NACHMANOVITCH, Stephen. Ser criativo: o poder da improvisação na vida e na arte. São Paulo: Summus, 1993.

NÓVOA, António. Formação de Professores e Profissão Docente. In: NÓVOA, António. Os Professores e sua Formação. Lisboa: Publicações Dom Quixote/Instituto de Inovação Educacional, 1992.

WERNECK, Hamilton. Ousadia de Pensar. Editora DP e A, Rio de Janeiro, 2000.

O ANALFABETO POLÍTICO

'O pior analfabeto é o analfabeto político.'
(Bertold Brecht)

Em todo país já estamos em plena campanha política para a escolha dos futuros prefeitos e vereadores de nossos municípios.
Ainda que tantas vezes maçante, essa campanha tem seu valor e pode ajudar o eleitor no discernimento de seu voto, desde que seja encarada com espírito crítico.
No intuito de despertar esse espírito crítico, retomo aqui uma minha reflexão inspirada numa conhecida página do escritor, poeta e teatrólogo alemão, Bertold Brecht (1898-1956), que encontramos assim traduzida: 'O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio, dependem das decisões políticas. O Analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito, dizendo que odeia a política. Não sabe ele que de sua ignorância nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e o explorador das empresas nacionais e multinacionais.'

Tomando a liberdade de continuar e explicitar essa página de Brecht, perguntamos: Quando alguém pode ainda ser considerado analfabeto político?
- Quando de antemão condena a política, considerando-a desnecessária em sua vida, esquecendo-se de que é a ciência do bem comum.
- Quando, como cristão, separa a fé da política, como se fé não fosse exigência do bem comum e de vida digna para todos.
- Quando fica indiferente diante dos graves problemas que afligem nosso povo (fome, moradia, educação, saúde, desemprego, etc.), não se empenhando na transformação da sociedade.

- Quando passivamente se deixa levar, sem nenhum questionamento, pela propaganda política veiculada pelos Meios de Comunicação Social.
- Quando não se sente indignado e não protesta contra os desmandos, falcatruas e corrupções dos falsos políticos.
- Quando vota movido por simpatia, olhando as aparências, sem levar em conta a seriedade política do candidato, seu passado e seu presente e o conteúdo mínimo de suas propostas.
- Quando vota por mera tradição de família ou partidária, sem olhar o algo novo e bom que pode estar sendo proposto por um outro partido.
- Quando vota em candidatos somente porque lhe oferecem favores. Está vendendo seu voto, vendendo sua própria dignidade humana.
- Quando se deixa levar pela conversa bonita dos cabos eleitorais e marqueteiros ou pela demagogia dos candidatos.
- Quando persiste em votar: nos políticos que querem eleger-se visando ao seu interesse particular e pouco preocupados com o bem comum de sua cidade.
O analfabetismo político, como um mal social, deve ser erradicado de um município em vista de seu bem estar comum. Isso depende do esforço de cada um, das Escolas, dos Meios de Comunicação Social, das Igrejas, das Entidades Civis e Sociais, dos Movimentos Populares, das ONGs, como também dos verdadeiros políticos.
Havendo esse esforço comum e conjugado pode surgir, quem sabe, um verdadeiro Mutirão pela Superação do Analfabetismo Político, como importante exercício coletivo da cidadania.

Texto escrito por:
Frei Lourenço Maria Papin, OP


Enviado por Sintia Furquim.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Um fragmento do Livro: Tomorrow's Children

Nutrindo a Humanidade das Crianças

No centro de toda criança há um humano intacto. As crianças têm uma enorme capacidade de amor, alegria, criatividade e cuidado. Crianças têm uma curiosidade voraz, uma sede de entendimento e significados. Crianças também têm um senso inato de justiça e injustiça. Acima de tudo, crianças anseiam por amor e aceitação e, dada meia chance, são capazes de dá-los em abundância em retorno.
No mundo de hoje, de fluxo tecnológico, econômico e social à velocidade da luz, o desenvolvimento dessas capacidades é mais crucial que nunca. As crianças precisam entender e apreciar nosso habitat natural, nossa Mãe Terra. Elas precisam desenvolver sua capacidade inata de amor e amizade, de se importar e tomar conta, de criatividade, de sensibilidade para suas próprias necessidades reais e as de outros.
Numa época em que as mídias em massa são as primeiras professoras das crianças sobre o mundo maior, em que as crianças nos Estados Unidos passam mais tempo vendo televisão do que em qualquer outra atividade, as crianças também precisam entender que muito do que vêem em programas de TV, filmes e videogames é falso. Elas precisam entender que violência apenas gera violência e não resolve nada, que obter bens materiais, mesmo sendo necessário para viver, não é um fim que valha a pena por si só, não importando quantas mensagens comerciais digam o contrário. Elas precisam saber que sofrer é real, que machucar as pessoas tem conseqüências terríveis e freqüentemente por toda a vida, não importam quantos desenhos e videogames façam lesões corporais e brutalidade parecerem normais, excitantes, ou mesmo engraçadas. Elas precisam aprender a distinguir entre estar estarem muito animados e sentir alegria real, entre diversão frenética e prazer real, entre questionamento saudável e indiferença ou cinismo.
Se as crianças de hoje devem encontrar fé com base na realidade, elas precisam de uma nova visão da natureza humana e de nosso lugar no drama da vida revelado nesta Terra. Se elas devem reter sua humanidade essencial, precisam se segurar firme em seus sonhos, em vez de se entregar ao cinismo e egoísmo que hoje em dia são considerados “legais”. Elas precisam de tudo isso para elas mesmas, mas também precisam para seus filhos, para que não se tornem outra geração X, uma geração lutando nesta época incerta para encontrar identidade e propósito, e tudo muito freqüentemente perdido.
Um dos maiores e mais urgentes desafios à frente das crianças de hoje relaciona-se com como eles criarão e educarão as crianças de amanhã. Aí está a verdadeira esperança para o nosso mundo.
Eu acredito ardentemente que se dermos a um número substancial de crianças de hoje a criação e educação que permitam que vivam e trabalhem nas maneiras igualitárias, não violentas, sem distinção de sexo, ambientalmente conscientes, cuidadosas e criativas que caracterizam a parceria em vez das relações dominadoras, elas serão capazes de fazer mudanças suficientes nas crenças e instituições para suportar este meio de se relacionar em todas as esferas da vida. Elas também serão capazes de dar a seus filhos a criação e educação que fazem a diferença entre perceber ou tolher nossos grandes potenciais humanos.
Cuidados e educação no início da infância são críticos, como os psicólogos sabem há tempo. Mas agora esta informação vem a nós com força de relâmpago pela neurociência. Quando um bebê nasce, o cérebro continua a se desenvolver e crescer. No processo, produz trilhões de sinapses, ou conexões entre neurônios. Mas então o cérebro fortalece essas conexões ou sinapses que são usadas, e elimina aquelas que são raramente ou nunca usadas. Sabemos agora que os padrões emocionais e cognitivos estabelecidos durante este processo são radicalmente diferentes dependendo de quanto o ambiente humano e físico da criança é apoiador e cuidadoso ou restritivo e abusivo. Este ambiente determina amplamente fatores críticos, como se somos ou não aventureiros e criativos, se podemos trabalhar com colegas ou somente receber ordens de superiores, e se somos ou não capazes de resolver conflitos sem violência – fatores de importância chave para confrontarmos os desafios da vida, bem como para a economia de informação pós-industrial.
O tipo de cuidado – material, emocional e mental – que a criança recebe, particularmente durante os primeiros três anos de vida, abrirão caminhos neurais que determinarão grandemente tanto nossas capacidades mentais quanto nosso repertório emocional habitual. Cuidados infantis positivos que se baseiam substancialmente em elogios, toques amorosos, afeição e abstenção de violência ou ameaças liberam as substâncias químicas dopamina e serotonina em áreas particulares do cérebro, promovendo estabilidade emocional e saúde mental. (Uma excelente fonte para pais e professores é o filme de Rob Reiner I Am Your Child: The First Years Last Forever – “Eu Sou Seu Filho: Os Primeiros Anos Duram Para Sempre”)
Em contraste, se as crianças são sujeitas a um tratamento negativo, sem cuidados, baseado em medo, vergonha e ameaças ou outras experiências adversas como violência ou abuso sexual, elas desenvolvem respostas apropriadas a esse tipo de ambiente dominador. Elas se tornam tiranas, abusivas e agressivas ou reservadas e cronicamente depressivas, defensivas, hiper-vigilantes e apáticas à sua própria dor bem como a de outros. Freqüentemente essas crianças não têm a capacidade de controle dos impulsos agressivos e de planejamento a longo prazo. Neurologistas descobriram que regiões do córtex cerebral e seu sistema límbico (responsável por emoções, incluindo o apego) são de 20 a 30 por cento menores em crianças que sofreram abuso do que em crianças normais, e que muitas dessas crianças expostas a estresse crônico e imprevisível sofrem déficits em sua capacidade de aprender.
Em resumo, uma criação atenciosa e cuidadosa tem influência direta não apenas no desenvolvimento emocional da criança, mas também no seu desenvolvimento mental, na sua capacidade de aprender tanto na escola quanto durante a sua vida.
A maioria dos pais ama seus filhos. Mas o que faz a diferença é a expressão desse amor através de toques amorosos, abraços, conversas, sorrisos, canto e da resposta carinhosa às necessidades e choros da criança proporcionando conforto, comida, calor e um senso de segurança e autovalorização. Este tipo de cuidado pode ser aprendido, como pode um entendimento dos estágios do desenvolvimento infantil, do que bebês e crianças são capazes ou incapazes de compreender e fazer, e do mal às vezes feito às crianças através da criação “tradicional” baseada em punição.
Daí vem a importância pivotal de ensinar a criação de crianças com parceria, baseada em elogios, toques amorosos, recompensas e sem ameaças. Para resultados otimizados, além de aulas de criação para os adultos, o ensino deste tipo de criação e cuidado deve começar cedo nas nossas escolas, como seria num currículo de parceria. Isto assegurará que as pessoas aprendam sobre isso enquanto ainda são jovens e mais receptivas.
Mas é toda a educação, não somente a educação de crianças pequenas e educação para criação, que deve ser reexaminada e reemoldurada para dar às crianças, adolescentes e, mais tarde, adultos a saúde mental e emocional para viver boas vidas e criar uma boa sociedade. Se mudarmos nosso sistema educacional hoje, ajudaremos as crianças do futuro a florescer. Se prepararmos as crianças de hoje para enfrentarem os desafios sem precedentes que encararão, se os ajudarmos a começar a construir as fundações para uma parceria em vez de um mundo dominador, então as crianças de amanhã terão o potencial para criar uma nova era de evolução humana.
EISLER, Riane. Tomorrow's Children: A Blueprint for Partnership Education for the 21st Century. Cambridge: Westview Press Pages, 2000, 362p. ISBN: 0-8133-9040-0

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS: NÓS, ALUNOS E PROFESSORES, UMA ÓTICA SOBRE MUDANÇAS NO CURRÍCULO OCULTO.

Ensaio
Por Alex-Sandro P. Cardoso

A História como conteúdo, que se aprende a aprender no Ensino Fundamental e Médio, no passado ainda era o reflexo de anos de ditadura, pois os aprendizes eram limitados pelos próprios “mestres” a reproduzir o que eles próprios reproduziam (é claro, não desmerecendo seus méritos, pois não havia a capacidade de discussão), e é por essa imaturidade de meus conhecimentos que, também dizia “estudar para que? É só decorar!”.
Foram tempos distintos na sociedade, pois nos anos oitenta, comportamentos de muitos professores ainda refletiam um difícil período político nacional: o medo misturava-se à vontade de dizer basta; o novo confundia-se com a possibilidade de apenas ser o mesmo, e as ideologias ainda nos encantavam por parecerem soluções imediatas de diversos problemas. Década intranqüila esta, pois turbulências políticas e o desgaste econômico faziam com que o modelo educacional sofresse por ser tratado em segundo plano.
Anos noventa, percebe-se no Ensino Médio bem como na Educação, outra época, outras idéias, novos paradigmas, professores abertos a opiniões, etc.
Os estudos agora estão voltados para conteúdos mais complexos, como as ideologias e as conseqüências, os novos modelos e as novas idéias, ou melhor, novos paradigmas e novos comportamentos. Mas as provas ainda, cobram datas e as respostas precisam ser ao modo do professor, ... “é melhor decorar”, precisa-se passar de ano...! De qualquer forma, os anos passam, no entanto o modelo de cobrar determinados conteúdos ainda são os mesmos, a famosa “decoreba” e o pequeno “macete”, que se prendem a simples reprodução de conteúdos e impossibilitam a reflexão e discussão de temas do cotidiano social.
Contudo no Ensino Superior, talvez por ironia, muitos de nós encontramo-nos cursando História e por seguinte lecionando-a. descobre-se então que aprender faz parte de um complexo e contínuo exercício de reflexão, percebe-se que tudo que se aprendeu, não foi em vão. Nesse contexto, entende-se:
“Hoje desaprendo o que tinha aprendido até ontem e que amanhã recomeçarei a aprender”1.
Qual será a relação entre História ensinada e História requerida, entre o desejo de reflexão estabelecido pelo professor e o desejo de notas do aluno?
Aparentemente, é difícil estabelecer um paralelo entre o que ensinar e como cobrar, pois a História não é palpável, apesar de sabermos que ela ocorreu, torna-se impraticável o uso da mesma com uma ótica atual, por isso o processo de reflexão pelo professor muitas vezes não obtém êxito, pois a cobrança de seu próprio trabalho torna rumos diferenciados como mero processo de memorização de esquemas.
Entretanto, condenar a memorização também é perigoso, pois, precisam-se nortear essas reflexões, cada qual com seus acontecimentos e períodos. Com tal reflexão pode-se afirmar que, enquanto houver o ser humano, haverá história e quanto maior for à dificuldade de aprendê-la, maior será a sua construção, e que seu ensinamento e sua reflexão estará dentro do “círculo da cultura”, na prática do dialogo entre os educadores e educandos, ou seja, entre nós, professores e alunos.
O desafio de ensinar está voltado para a aprendizagem e o ensino de História no Ensino Médio tem, por muitas vezes, de ser aplicado para o vestibular.
“Vestibular... mais uma vez, terei que decorar aprender macetes”... mas agora!, é pior, pois somos os professores-alunos e não mais somente alunos, somos professores de nós mesmos, tentando compreender como entenderemos tais macetes e detalhes... Hum... Vestibular!
Como se não bastasse, os detalhes, macetes ou decorebas, ou seja, as “veias abertas” da educação somam-se isso ao cotidiano, adiciona-se tudo isso a uma sociedade tecnológica, cercada de símbolos e imagens de modo geral: a mídia, a informática, os games, os outdoors, etc.
Estão a todo o momento transmitindo suas mensagens de maneira criativa e conveniente. Para Rivoltela2: “a Escola deve promover a troca de abordagem tradicional, baseada na fala do professor à frente da sala de aula pelo uso de mídias que favoreçam o trabalho em grupo mais ativo, dinâmico e criativo em todas as disciplinas”. Porém, a Escola pouco têm acompanhado esse desenvolvimento iconográfico, o que não atrai o interesse do aluno de forma desejada, já que a dificuldade dos alunos do “terceirão” ou terceiro ano do Ensino Médio em compreender os textos de História tem sido uma constante preocupação por parte dos educandos, que além de preocupar-se com o vestibular tem como objetivo a formação do indivíduo na sociedade.
Pode-se então, observar que os textos de História são muito longos, cansativos e complexos, portanto, dificultam a compreensão e o interesse dos alunos. Identificar as causas pela qual a maioria dos alunos apresenta dificuldades de aprendizagem e reflexão significa buscar inter-relação entre o memorizar e refletir, o aprender e compreender.
Portanto, nós, alunos-professores... que somos, não buscamos a melhor forma de ensinar, não me entendam mal, pois simplesmente entendo que não quero voltar ao passado e apenas apresentar “soluções imediatas de nossos problemas”, como já havia dito o início deste breve comentário! Também não quero propor novas idéias, novos paradigmas (bela, velha e útil palavra), mas apenas tentar entender... Por que ainda hoje ouço: Tenho que decorar?!

1 Cecília Meireles.
2 Rivoltella, Píer Cesare. In Revista Nova Escola: ed. 200, março 2007.

Os Sete Princípios de Leonardo da Vinci

Os Sete Princípios de
Leonardo da Vinci
(Baseado na obra de Michael J. Gelb – Aprenda apensar com Leonardo Da Vinci, Editora Ática)

Leonardo Da Vinci (1452-1519)
Grande mestre da pintura foi, também, arquiteto, botânico, urbanista, cenógrafo e figurinista, cozinheiro inventor, matemático, geógrafo, físico.
Segundo Michael Gelb, ao estudarmos a forma de ser do grande mestre, podemos desenvolver novas formas de auto-expressão e estratégias para pensar criativamente. Para isso sugere 7 princípios: Curiositá, Dimostrazione, Senzasione, Sfumato, Arte/Scienza, Corporalitá, Conessione.
http://www.mos.org/leonardo/index.html

Curiositá
UMA INSACIÁVEL CURIOSIDADE EM RELAÇÃO À VIDA E UMA BUSCA CONTÍNUA DO CONHECIMENTO.
Estou fazendo as perguntas certas?
Todos nós chegamos ao mundo cheio de curiosidade. A curiositá baseia-se no impulso natural, o desejo de aprender mais. Todos o possuímos; o desafio é usá-lo e desenvolvê-lo para o próprio crescimento.
As questões que “ocupam nossos pensamentos” diariamente refletem o objetivo de nossas vidas e influenciam nossa qualidade de vida.
Dicas para desenvolver a Curiositá:

-Manter um diário ou caderno de anotações para registrar insights e questões importantes;
-Reservar um tempo para reflexão e contemplação;
-Estar sempre aprendendo alguma coisa nova;
-Quando tiver que tomar uma decisão importante, examinar a situação de vários ângulos
- Aumentar nossa capacidade de fazer perguntas
- Aprofundar o auto-conhecimento


O Jogo das Cem questões

Em seu caderno faça uma lista com cem questões que são importantes para você. Pode incluir qualquer tipo de questão contanto que seja algo que você julgue importante.
Faça a lista completa de uma só vez. Quando tiver terminado, leia a lista inteira e sublinhe os temas emergentes. Considere os temas sem julgá-los. Eles se referem principalmente a seus relacionamentos? Negócios? Divertimento? Dinheiro? O sentido da vida?
Escolha dez questões e coloque em ordem de prioridade.
Diariamente, procure separar um tempo do seu dia para contemplar e refletir sobre uma das dez questões selecionadas.

Dez questões de peso:

- Quando sou eu mesmo, da forma mais espontânea? Que pessoas, lugares e atividades me permitem ser mais plenamente eu mesmo?
- Que coisa eu poderia parar de fazer, começar a fazer ou fazer de forma diferente, a partir de hoje, que se refletisse de forma mais positiva na minha qualidade de vida?
- Qual o meu maior talento?
- Como posso conseguir ser pago para fazer o que gosto?
Quais são meus modelos mais inspiradores?
- Que fazer para ajudar melhor os outros?
- Qual o meu desejo mais profundo?
- Como me vêem: meu amigo mais íntimo, meu inimigo, meu patrão, meus filhos, meus colegas, etc.?
Dimostrazione
O COMPROMISSO DE SUBMETER O CONHECIMENTO AO TESTE DA EXPERIÊNCIA, DE PERSEVERAR E DE SE DISPOR A APRENDER COM OS PRÓPRIOS ERROS.
Como posso aumentar minha capacidade de aprender com os meus erros e experiências? Como posso desenvolver minha independência de pensamento?
O princípio da dimontrazione é a chave para que você aproveite o máximo a sua experiência.

Dicas para desenvolver a Dimostrazione:

-Analise a experiência: o que posso aprender, mudar, melhorar e evitar numa outra experiência?
- Examine suas opiniões e suas fontes: de onde vieram essas informações e em que elas se baseiam?
-Avalie a sua opinião de pelo menos três pontos de vista diferentes;
-Quais são as mensagens que estão por trás das propagandas
-Aprenda como os erros e com as dificuldades;
-Aprenda com modelos que “devem” e que “não devem” ser seguidos.

Aprendendo com os erros:
Analise sua atitude para com os erros, refletindo sobre as seguintes questões e anotando suas reflexões no seu caderno:
- O que você aprendeu na escola sobre os seus erros?
- O que os seus pais lhe ensinaram sobre cometer erros?
- Qual foi o maior erro que você já cometeu?
- Que erros você costuma repetir?
- Que influência o medo de cometer erros tem em sua vida diária, no trabalho ou em casa?
- Os erros que você costuma cometer são mais de ação ou omissão?
- O que eu faria de diferente se não tivesse medo de cometer erros?
Sensazione
O CONTÍNUO APERFEIÇOAMENTO DOS SENTIDOS, PRINCIPALMENTE DA VISÃO, COMO MEIO DE TORNAR A EXPERIÊNCIA MAIS VÍVIDA.
Quais são meus planos para apurar os meus sentidos à medida que envelheço?
Visão, audição, tato, paladar e olfato são os elementos chaves que abrem a porta para a experiência. Da Vinci acreditava que os segredos da Dimostrazione se revelam através dos sentidos, especialmente a visão.

Dicas para desenvolver a Sensazione através da Visão:

-Aprenda a focalizar perto e longe;
-Estude a vida e a obra de seus artistas favoritos;
- Aproveite as exposições de arte e perceba o impressiona em cada obra
- Pratique a “especulação sutil”: a capacidade de visualizar um resultado desejado;
- Aprenda a desenhar;
Dicas para desenvolver a Sensazione através da Audição:

-Aprenda a ouvir em vários níveis;
- Ouça o silêncio;
- Estude a vida e a obra de seus compositores prediletos;
-Conheça os principais movimentos da música ocidental, ou do seu país, região, estado, município, etc...
-Orquestre sua vida.

Dicas para desenvolver a Sensazione através do Olfato:

-Amplie seu vocabulário para descrever a experiência aromática: florais, mentolados, almiscarados, delicados, resina, pútridos e acres.
Observe como os diferentes cheiros influenciam ou interferem nas suas emoções ou nas usa lembranças;
Estude aromaterapia;
-Faça dos “cheiros” o tema do dia.

Dicas para desenvolver a Sensazione através do Paladar:
Procure saborear os alimentos durante as refeições;
Desenvolva o paladar comparativo;
Aprenda a fazer novas receitas;
Experimente novas receitas quando tiver oportunidade.

Dicas para desenvolver a Sensazione através do Tato:
Toque a natureza e perceba as diferentes texturas;
Experimente diferentes tipos toques e perceba como influenciam ou interferem nas suas emoções ou nas suas lembranças;
Aprenda a tocar com os olhos fechados;
Aprenda novas habilidades com o tato, como aprender massagem, tocar um instrumento, etc.

Dicas para desenvolver a Sensazione através da Sinestesia:
Desenvolva a habilidade de desenhar a música e as emoções;
Aprenda a usar o som para representar cortes e emoções;
Procure resolver problemas de forma sinestésica;
Crie para você um ambiente que promova a criatividade, aconchego, paz, etc.
A dinâmica dos cinco sentidos

Sfumato
DISPOSIÇÃO PARA ACEITAR A AMBIGUIDADE, O PARADOXO E A INCERTEZA.
Como posso aumentar minha capacidade de suportar a tensão criativa e de aceitar os grandes paradoxos da vida?

Quando despertamos a capacidade de curiositá, sondamos as profundezas da experiência e apuramos nossos sentidos
, e então vemo-nos diante do desconhecido. Mantermos a mente aberta em face da incerteza é um caminho para libertar o nosso potencial criativo. O princípio do sfumato é a chave para manter essa abertura mental. A palavra sfumato significa “esfumado”, “desfeito em fumaça” ou simplesmente “esfumaçado” . Os críticos de arte usam esse termo para descrever o efeito produzido, por Da Vinci em suas pinturas, através da laboriosa aplicação de muitas camadas leves e finas de tinta.
Dicas para desenvolver o Sfumato:

Observe as situações em que apresentam incertezas e veja quais são as emoções presentes;
Identifique momentos em que tem que lidar com a ambigüidade: alegria e tristeza, força e fraqueza, bem e mal, feio e bonito, vida e morte, etc. Observe como você costuma reagir a esses momentos;

- Aprenda a fazer pausas durante o trabalho para relaxar;

Aprenda a dar mais atenção aos pressentimentos e intuições do seu cotidiano.

Arte/Scienza
O DESENVOLVIMENTO DO EQUILÍBRIO ENTRE CIÊNCIA E ARTE, LÓGICA E IMAGINAÇÃO. PENSAR COM O “CÉREBRO TODO”.
Estou conseguindo um equilíbrio entre arte e scienza em casa e no trabalho?
Este princípio baseia-se em se desenvolver o dois hemisférios cerebrais, o direito está relacionado ao pensamento imaginativo, atividades artísticas e intuição o esquerdo está realcionado ao pensamento lógico e analítico.
Segundo Roger Sperry, “nosso sistema educacional, assim como a ciência em geral, tende a negligenciar o intelecto de natureza não verbal. O que acontece é que a sociedade moderna tem preconceito contra o hemisfério direito”. O resultado é que indivíduos nos quais o hemisfério esquerdo é predominante tendem a ir bem na escola mas em geral não conseguem desenvolver sua capacidade criativa, enquanto os indivíduos com o hemisfério direito predominante em geral sentem-se culpados pela foram como pensam e muitas vezes são taxados erroneamente de “incapazes de aprender”.

Dicas para desenvolver Arte/Scienza:
- Desenvolver atividades que desenvolvam os dois hemisférios cerebrais;
Estimule o seu espírito inventivo;
Aprenda a construir mapas mentais (ilustrações para representação do conhecimento).
Mapa Mental do Renascimento

Corporalità
O CULTIVO DA GRAÇA, DA AMBIDESTRIA, DA BOA FORMA E DO EQUILÍBRIO.
Como posso manter o equilíbrio entre corpo e mente?
Corporalitá baseia-se no princípio que devemos assumir responsabilidade por nossa saúde e bem- estar, a partir de exercícios físicos, alimentação saudável e descanso.


Dicas para desenvolver Corporalitá:
Desenvolva um programa para manter a forma;
Desenvolva sua consciência corporal através de observação e estudo da anatomia;
Reaprenda a boa postura;
Aprenda a se olhar no espelho e gostar de você.

Connessione

RECONHECIMENTO E APRECIAÇÃO DA INTER-RELAÇÃO DE TODAS AS COISAS E FENÔMENOS. PENSAR EM TERMOS DE SISTEMAS.
Como todos os elementos acima se harmonizam? Como tudo se relaciona com tudo?
Dicas para desenvolver Connessione:
Aprenda a refletir sobre a totalidade;
Busque observar a dinâmica dos sistemas a partir da observação: do corpo humano, da família, do sistema educacional, da cidade, etc.;
Reflita sobre a origem das coisas e como os elementos estão relacionados para a sua criação.

sábado, 6 de setembro de 2008

Um Pouco de Freire Nunca Faz Mal!

Aprendizagem segundo Paulo Freire


Segundo Paulo Freire, “os alunos são construtores. E se eles constroem, eles o fazem motivados pelo impulso mais profundo da alma humana que é o impulso para o prazer e para a alegria. Os saberes têm de estar a serviço da felicidade. É preciso descobrir o paraíso”.

Para ele a alfabetização deve ser pensada como instrumento de transformação social. O analfabetismo tem sua origem muito mais numa situação histórica de exploração e opressão do que oriundo de carências pessoais que incapacitam certos grupos sociais de aprender.

Toda teoria pedagógica é subjacente a um conceito de homem e de mundo. Não há, portanto, uma educação neutra.

É o homem um ser de adaptação no mundo? Ou é o homem um ser de transformação do mundo?

Para Paulo Freire o homem é um ser no mundo e com o mundo. Um ser que opera e transforma o mundo. E quando essa sua vocação ontológica lhe é negada, ele se torna um homem –objeto.

O conceito de Educação Bancária é o contraponto da Educação Humanista ou da Educação como prática de liberdade.

A característica dessa concepção é a narração e a dissertação. A realidade é vista como algo estático.

Esta concepção reflete a sociedade opressora e a cultura do silêncio.

A Concepção Humanista é a negação da Bancária. Ela é problematizadora e libertadora. Ela se orienta com o objetivo de respeitar a vocação ontológica do homem: um ser de transformação do mundo.

Só a Concepção Libertadora realiza a superação da contradição educador/educando. Não é mais o educador sempre o que educa e o educando o que aprende. Agora não há mais um educador do educando ou um educando do educador.

Mas como se dará essa educação? Somente através do diálogo. Seria preciso a modificação do conteúdo programático e a forma pela qual ele é determinado.

O diálogo é uma relação de comunicação que gera a crítica e a problematização. É uma relação horizontal, ao contrário do anti-diálogo nascido das relações verticais em que um fala e o outro ouve.

A palavra deve ser analisada como mais do que um meio para que o diálogo se faça. As duas dimensões constitutivas da palavra devem ser: a ação e a reflexão. A palavra verdadeira é a práxis transformadora. A ação desconectada da reflexão nega o diálogo.

A leitura do mundo, portanto, precede a leitura e a escrita da palavra. O que conclui: escrever o mundo é transformá-lo.

China em Foco: Entenda os Impactos da Olimpiadas

ENTREVISTA PÚBLICADA NA REVISTA ITS (JULHO/2008)
http://www.portalits.com.br/_site/

(Its) O que os vestibulandos devem focar ao estudar sobre a China para provas como a da UFSC?
(Prof. Alex) Por se tratar de um vestibular para ingresso em uma Universidade Pública e de renome como é o caso da UFSC eu diria que “tudo”, pois vestibulando deve sempre priorizar a leitura, prática de exercícios e busca de boas informações. Porém, pode-se facilitar um pouco, dando ênfase no estudo do “histórico” chinês pelo menos a partir de Mao Tsé Tung até os dias atuais, suas relações “industriais e comerciais” com o Ocidente, na geografia física (principalmente na hidrografia), na contribuição chinesa para a degradação do “meio ambiente” e em sua “demografia”.

(Its) Quais os impactos, bons e ruins, que as Olimpíadas devem ter no país?
(Prof. Alex) A “Olimpíada de Beijing” está sendo utilizada pelo governo Chinês para promover sua propaganda mostrando ao Mundo a eficiência, organização e dedicação do povo e do poder político chinês. Quanto aos impactos bons talvez o mais relevante de todos seja a capitação de recursos de investimentos externos por parte do governo que aprendeu ser capitalista sem propor abertura política, com recursos capitados à China aproveita para aliviar os altos custos de seu sistema, como é o caso da dívida pública que é alavancada pelas 140 mil empresas estatais que operam no vermelho.
Os impactos ruins estão associados a crescente necessidade de investimentos na indústria, construção civil, aumentando o consumo de matéria-prima para acelerar a conclusão das obras. Como exemplo, relaciono alguns dados: Cerca de 30% do território chinês sofre com a chuva ácida, 80% dos recursos hídricos estão em estado deplorável de poluição, são grandes consumidores de minerais metálicos e atualmente já ocupam a segunda posição no ranking de emissão de CO2 mundial.

(Its) Qual deve ser o resultado prático de manifestações como as que aconteceram em favor do Tibete?
(Prof. Alex) Bom, para os tibetanos creio que nenhum, pois o governo chinês não mostra nenhum interesse ou vontade de dialogar um possível acordo que reconheça autonomia ao território do Tibete. Quanto aos organismos internacionais dependendo da necessidade ou pretensão de cada um, pode haver ou se propor uma pressão no campo diplomático para que o governo chinês “afrouxe” um pouco a corda. Porém, não podemos ser tão ingênuos a ponto de imaginar que as nações façam realmente pressão sobre o sistema ditatorial chinês, pois o que realmente interessa para Governos e Empresas são os capitais e lucros que a China os oferta, se assim fosse deveríamos também protestar em favor dos Chechenos, Palestinos, Curdos, Sudaneses e porque não citar nossos Índios e, quem sabe, esperar por “resultados” mais significativos.

(Its) Até que ponto o crescimento econômico vai forçar e acelerar uma abertura política? O governo está assumindo o risco de perder controle?
(Prof. Alex) Nesse caso, o antigo governante Deng Xiaoping (1904 – 1997) que assumiu o poder após a morte de Mao Tsé tung (1893 – 1976) fora realmente inteligente, pois criou uma verdadeira máquina de fazer capital chamada ZEEs (Zonas Econômicas Especiais) e as colocou geograficamente nas áreas litorâneas buscando efetivar a parceria do comunismo com o capitalismo. As ZEEs solidificaram os fundamentos do “socialismo de mercado” e o atual governante Hu Jintao, considerado modernizador, facilita estrategicamente a entrada de empresas internacionais nessas áreas, mas com uma condição, elas devem associar-se a um parceiro local, formando uma Joint Venture, com essa prática a China não expressa vontade de promover abertura política, também reduz o risco de perder o controle e se consolida como um “país-fábrica”.
(Its) O país tem muitas pessoas em péssimas condições de trabalho. Quais os outros poréns do super crescimento econômico chinês?

(Prof. Alex) Recentemente, foram aprovadas reformas nas leis trabalhistas, pois havia inúmeras acusações de escravidão no país, essas reformas visam melhorar um pouco as condições de trabalho de seu povo. Entretanto, as grandes diferenças estão na divisão campo-cidade. O campo chinês ainda é um lugar incomum, a precariedade de vida no meio rural está fazendo com que ocorra uma forte migração de chineses para as cidades provocando consequentemente inchaço urbano, déficit habitacional, comprometimento da produção de alimento, aumento da desigualdade social gerando concentração de renda explosão da pobreza.


Prof. Alex-Sandro P. Cardoso,
é Mestre em Educação e professor de Especialização da rede CENSUPEG, professor de Geografia do Ensino Médio e de Curso Pré-Vestibular da rede Bom Jesus Franciscano e Energia.